Arco do Telles: A lenda de Bárbara dos Prazeres
Um fato estranho ocorrido em um dos pontos turísticos da cidade do Rio de Janeiro é pouco conhecido por seus moradores, mas existem registros históricos que provam que uma mulher, que residia no Arco do Telles construído entre 1743 e 1747 para o Juiz Antônio Telles de Menezes, localizado na Praça 15, no centro do Rio, praticava atos bárbaros, com o intuito de obter a juventude eterna.
Segundo o historiador e guia turístico Milton Teixeira no final do século XVIII, o lugar era de intensa prostituição. E nesse mesmo lugar era o local de trabalho de uma prostituta que atendia pelo nome de Bárbara dos Prazeres. Ela era uma imigrante de Portugal. Lá, ela supostamente teria assassinado a própria irmã numa crise de ciúmes.
Bárbara foi casada e suspeita de assassinar seu marido e também o amante que ela tinha fora do casamento. Restou à jovem de 20 anos se prostituir para poder viver.
Com o passar do tempo a vida libertina começou a exigir seu árduo preço. Bárbara ficou velha e já não atraía muitos homens. Os cabelos estavam ficando brancos, seus dentes estavam podres e sua beleza, há tempos perdeu sua vitalidade. Alguns homens zombavam de suas ofertas e a humilhavam, em reação ela cuspia neles e os maldizia. Em certo momento ela teria sido espancada por dois escravos que obedeciam a ordem de um senhor que ficou furioso com as suas pragas. Desde então ela reclamava de dores nos ossos que ficavam mais intensas a cada dia. É possível que tenha apanhado sífilis e a popularidade de doente, acrescentada a seu aspecto desalinhado afugentava mais ainda os fregueses.
Placa na travessa
Com medo de ficar na pobreza e sozinha, num ato de desespero, ela buscou um remédio nas várias casas de feitiçaria e magia negra da cidade do Rio de Janeiro. Naquele tempo existiam muitos estabelecimentos comerciais que possibilizavam de soluções sobrenaturais para os mais variados sofrimentos: unguentos, passes, mandingas e patuás eram disponibilizados por ``especialistas`` que os receitavam com a competência de médicos.
Comprados pelo povo, eles eram a saída para a maioria dos distúrbios. A solução que Bárbara procurava era uma poção que atenuasse suas dores nos ossos e ao mesmo tempo a tornasse linda e jovem novamente.
Algumas pessoas contam que essa poção consumiu todo o dinheiro que ela conseguiu juntar, outras, que o preço exigido foi a alma dela; o que se sabe com clareza é que alguém lhe vendeu uma fórmula que prometia a eficácia pretendida. Nos ingredientes constavam certas ervas que ela podia reunir percorrendo pelas matas da cidade, mas um dos ingrediente era mais difícil. Sangue humano ainda quente fazia parte da receita e melhor seria, se fosse sangue infantil.
Desde então Bárbara iniciou o roubo de meninos pobres, filhos de escravos e pedintes. Caminha pelas ruas sempre visando crianças que estivessem sozinhas ou longe o bastante das mães. Trazia no bolso de sua saia doces ou brinquedos que ela utiliza método para conseguir a confianças das inocentes crianças e garantia mais desde que fossem até sua moradia. As crianças acabavam indo com ela, porque a bruxa sabia se passar por inofensiva e boa. Dentro de sua maloca descaída na Cidade Nova, ela as estrangulava ou dava para as crianças beber uma porção de ervas misturada com cerveja amarga. Após uma desses métodos tinha início a assustadora oferenda. Prendia uma corda aos pés da sua vítima e a suspendia de cabeça para baixo, levantando-a sobre um balde ou banheira que era colocada em baixo.
Usando uma faca muito afiada, cortava a garganta e deixava verter o sangue ainda quente, para dentro da banheira onde mais tarde se banhava. Em alguns momentos se banhava imediatamente debaixo do rio vermelho rindo insanamente.
Não é possível precisar com certeza o número de vítimas de Bárbara, mas foram dezenas de crianças sacrificadas pela bruxa para seu macabro hábito rejuvenescedor. Se gabava contando para suas colegas que estava ficando mais bonita, a pele mais clara do que outrora e os cabelos mais pretos. Se isso é real ou não, sua demência a fazia crer nos efeitos do ritual.
A população do Rio de Janeiro foi tomada pelo medo à proporção que crianças sumiam sem deixar sinais. Pensava-se que algum pervertido estivesse atuando nas travessas escuras, tomando meninos e meninas com a finalidade de atender seus desejos animalescos. Os corpos sem vida das crianças eram achados em campinas e matas, apenas deixados em locais desabitados. Existiam muitos suspeitos: um homem que vivia como gigolô por um triz não foi linchado pelos populares, um escravo foi perseguido por uma multidão enraivecida e um negociante foi identificado como o culpado pelos crimes e precisou escapar para não ser apanhado. Esse medo teve algo positivo, ele ajudou a tornar mais difícil os atos da assassina: os pais começaram a deixar suas crianças trancadas em casa e só podiam sair acompanhadas de adultos.
Necessitando de mais vítimas Bárbara começou a ficar esperando que mães abandonassem seus próprios bebês recusados na Roda dos Inocentes da Santa Casa. Funcionava assim, o bebê era colocado num tipo de bandeja giratória e a mãe tocava um sino, isso fazia com que a bandeja girasse para dentro. Lá uma enfermeira pegava a criança e a direcionava para um orfanato. A Roda contribuiu muito para evitar a morte de muitas crianças que anteriormente eram mortas por afogamento ou deixadas nas ruas. Bárbara viu na roda uma grande oportunidade de pegar crianças indefesas e com quem ninguém ligava.
A Roda dos Inocentes na Santa Casa.
Contudo, em uma das ocasiões, ela foi descoberta tentando tirar um bebê da roda, e quase que seus braços ficaram imobilizados no dispositivo giratório. Bárbara ficou muito zangada e foi embora amaldiçoando a enfermeira que veio salvar a criança.
Não se tem conhecimento de que maneira foi descoberta a participação de Bárbara nos crimes, se considera que em dado momento estando bêbada ela teria revelado o que praticava para um de suas colegas e que esta estarrecida foi até as autoridades policiais. Assim a bruxa se transformou na mulher mais procurada da cidade do Rio de Janeiro em toda sua história, mas não obstante disso, Bárbara conseguiu enganar seus algozes escapando para outra direção da cidade na qual se mesclou com o povo. Para se disfarçar ela teria cortado os cabelos e começou a utilizar outro nome. Na verdade fazia muito tempo que ninguém a notava, e ninguém teve a capacidade de poder relatar como ela era.
Um boato diz que ela teria vivido até o ano de 1830, quando faleceu prestes a completar 60 anos de idade. Nesse mesmo ano, narra-se que perto do Largo do Paço, surgiu boiando o defunto de uma mulher cujo rosto estava inidentificável. Algumas pessoas afirmavam que era o cadáver de Bárbara dos Prazeres, mas ninguém souber dizer de que forma ela foi a óbito.
O Arco do Telles permaneceu sendo um lugar de péssima reputação e inseguro, mesmo estando justamente na frente do Paço Imperial e cravado potencialmente no centro da cidade, até o princípio do século XX, quando passou por restauração na gestão do célebre prefeito Pereira Passos no decorrer do bota-abaixo que era uma reforma urbana visando o saneamento, o urbanismo e o embelezamento, para dar ao Rio de Janeiro a aparência de uma cidade moderna e cosmopolita. Seu brilho não durou muito, pois pouco tempo depois se tornou em residência de baixa renda, forçando outras portuguesas conhecidas, como as irmãs Carmem e Aurora Miranda, que lá viviam durante a infância, a ter que vender marmitas para os clientes de sua mãe. Atualmente a área foi de novo prestigiada e a localidade do Arco do Telles é procurada durante os finais de semana como lugar de divertimento e passatempo onde se encontram restaurantes, casas de show e gafieiras sempre lotadas.
Há pessoas que desconfiam que Bárbara dos Prazeres continua viva até os dias de hoje, em virtude da misteriosa fórmula do rejuvenescimento que não somente lhe teria dado mocidade como também vida eterna. E ainda que teria atribuído para si a categoria de bruxa e teria usado a fórmula em um pequeno número de empresários, com a condição de que os mesmo dessem parcelas de suas fortunas em troca.
Conta-se que até hoje, em determinadas madrugadas onde a lua não está presente, quando os últimos garçons dos bares da Travessa do Comércio já foram embora e não há mais boêmios andando, ouvi-se no beco a risada de Bárbara dos Prazeres, a bruxa, ressoando de forma horripilante pelos espaços sombrios do Arco do Telles.
Por: Christian Murta Peres
Segue abaixo um vídeo sobre o Arco do Telles e a bruxa Bárbara dos Prazeres:
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