Aparições De Fantasmas E Assombrações Participam Da História Do Teatro Amazonas

  O senhor Raimundo Nonato é cenotécnico do Teatro e é a grande procedência desses contos de fantasmas que residiriam a casa de ópera amazonense há no mínimo 50 anos.

   Raimundo Nonato é o funcionário mais antigo da casa de ópera.

  Desde o anos de 1960 do século passado o ator amazonense Aldemar Bonates falava: ´´toda ópera que se preza tem o seu fantasma.`` Não poderia se diferente com o Teatro Amazonas. Até hoje são vários os contos com o envolvimento de espíritos e aparições nos cômodos da edificação histórica, e uma referência no tema é seguramente o cenotécnico Raimundo Nonato, funcionário mais antigo da casa de ópera.
Aos 81 anos de idade e destes 43 devotados ao Teatro Amazonas.Ele relata que chegou ao lugar como pedreiro da Odebrecht no tempo da grande restauração de 1974. Após isso, firmou assinatura de uma contratação de três meses para trabalhar no teatro e está até hoje.´´O pessoal fala muito em fantasma, mas eles nunca me perturbaram. Eu nunca vi nada muito assustador, sinceramente, mas é uma coisa em que eu acredito´´, diz.
Contudo, ele opta tomar alguns cuidados para não levar sustos ao virar uma galeria. Um deles é, ao aviso de uma presença estranha, jamais olhar para trás por cima do ombro, e sim girar o corpo todo.
´´Teve uma época em que eu passava no terceiro andar e sentia um calafrio. Até que chamaram aqui um senhor que trouxe um aparelho, e quando ele foi ao terceiro andar o negócio tremia na mão dele, gelada que nem pedra de gelo. Ele me disse: ´Meu filho, a corrente é muito forte, mas é boa`. Agora eu passo a qualquer hora e não estou nem aí´´, lembra Nonato.
Em outro acontecimento, o cenotécnico narra que o teatro ficou lotado por três dias, com todos os lugares vendidos. Estranhamente, em nenhum dos dias a pessoa que deveria ocupar a cadeira 13 surgiu para assistir ao espetáculo. ´´A gente até levava espectadores para sentar lá, mas eles nunca ficavam. Quem sabe já não estava vindo alguém?´´, indaga. 
Nonato também lista momentos em que eventos enigmáticos foram a justificativa para funcionários solicitarem demissão. Como sucedeu com um vigia que não se recobrou logo depois de testemunhar muitas assombrações vagando pelo lugar.
´´Nos anos 90 tinha uma companhia de conservação que prestava serviço aqui, e aos sábados os funcionários saíam cedo e podiam trazer seus filhos. Uma dessas crianças entrou num banheiro do terceiro andar (sempre ele!) e depois só ouvimos o grito. Quando chegamos lá ela estava ardendo em febre´´.
Raimundo além disso culpa à fantasia das pessoas parte desse medo. Quem caminha em algumas divisões do teatro, por exemplo, escuta tábuas estalando e tem a sensação de que alguém o está seguindo. ´´Se botar coisa na cabeça, a gente vai embora na imaginação´´, brinca ele.




 Quem estudou muito a respeito dessas histórias de fantasmas descritas por Raimundo Nonato foi o jornalista Antônio Carlos Junior, autor do livro ´´Dos fantasmas ao tacacá: uma visão sobre o Largo´´, editado pela Prefeitura de Manaus no ano de 2011. O trabalho surgiu logo que o amazonense foi escolhido para entrar no Programa Rumos Itaú Cultura, que na época possuía um nível para estudantes de jornalismo.
´´Escrevi uma matéria chamada ´Os fantasmas de cada um´, que foi o embrião desse livro. A ideia da obra é mostrar esse mosaico em torno do Largo São Sebastião, passando pelo Teatro Amazonas, Bar do Armando e outros. É como se a praça tivesse uma personalidade. O lado místico está representado pelas histórias sobrenaturais que envolvem o teatro´´, explicita.
Outro defensor desses contos era Joaquim Caldas, a quem Antônio Carlos chegou por recomendação de Nonato. Caldas trabalhou por mais de 20 anos no Teatro Amazonas e, naquele tempo, fazia parte dos membros do Teatro Américo Alvarez. ´´Ele chegou para mim e disse que era amigo dos fantasmas, que conversava com eles e tudo. Foi um baque ouvir isso´´, recorda o jornalista.
Uma das primeiras histórias que Antônio Carlos ouviu do ´´seo´´ Caldas foi a de uma loira misteriosa, que em determinada ocasião apareceu na frente do iluminador. Ela ofereceu a mão, e no momento em que ele foi saudá-la, ela sumiu tão inexplicavelmente quanto surgira.
Em outro momento, mais uma vez no Teatro Amazonas, o funcionário viu em um dos camarotes um homem de bata preta , ao estilo do século 19, que similarmente cumprimentou Caldas com um gesto de cabeça. ´´E o Caldas era tão amigo dos fantasmas que quando ele foi trabalhar no Américo Alvarez alguns foram junto´´.
O escritor Márcio de Souza foi o responsável por registrar, num artigo editado na década de 90 a frase de Aldemar Bonates, ex-administrador do Teatro Amazonas, de que toda ópera que se preza tem fantasmas. Márcio reconhece ser incrédulo perante a temática, mas não contradiz sua convicção na fantasia.
Foi em 1965 que ele teve seu primeiro contato com esses casos. A atriz Glauce Rocha estava em Manaus com a peça ´´Um uísque para o Rei Saul´´ e, no mesmo momento em que treinava suas falas no palco, um dos contrarregras da apresentação exalou um grito que apavorou toda a equipe. Conforme o informe, ele enxergara um cavalheiro trajando roupas de época traspassar a parede depois de lhe direcionar um cumprimento. A mesma aparição teria surgido para a pianista Gerusa Mustafa enquanto ela estava sozinha ensaiando no local. Ao final de uma das músicas, ela escutou sons de aplausos provenientes da plateia. No momento que se virou, foi capaz de ver um fantasma, que as narrativas afirmavam referir-se a um ator italiano que foi vítima de malária no decorrer de sua passagem por Manaus.
Márcio Souza recorda que durante o tempo que o Teatro Amazonas começou a ser reformado nos anos 70, o TESC (Teatro Experimental do Sesc) decidiu representar um espetáculo à meia-noite, para o qual foram convocados os fantasmas da casa de ópera.
Deste modo, o teatrinho da rua Henrique Martins conseguiria se transformar na morada temporária daquelas entidades no tempo que durassem as obras. ´´Digo que aceitaram o convite, porque o incrédulo ator Moacir Bezerra, depois de declarar que não acreditava em fantasmas, teve uma prova cabal de que eles estavam todos lá, e com o senso de humor teatral afinadíssimo´´, escreveu Souza, que aguarda poder se reunir ao conjunto de espectros do Teatro Amazonas quando chegar seu momento.


Por: Christian Murta Peres

Segue abaixo um vídeo sobre os fantasma do Teatro Amazonas.



  












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